Eu estava vivendo do seguro desemprego e morava com Julia em um pequeno quarto alugado. Tempos depois, Julia descobriu que a senhoria tinha a chave de todos os quartos e aproveitava a saída dos hospedes para verificar seus pertences. Ela nunca teve esse tipo de oportunidade conosco. Nós não tínhamos nada além de roupas sujas e eu estava em casa o tempo inteiro.
Julia trabalhava na cozinha de um restaurante da região. Ela dava um jeito de esconder cenouras e cebolas e alho e outros alimentos na bolsa. Sempre inventava como fazer comida com o pouco que tínhamos. Ela sabia viver direito. E agora estava grudada em mim.
Nós transávamos o dia inteiro e de todo o jeito que desse na telha. Não tínhamos muito que fazer ou no que pensar e os dias se arrastavam lentamente. Não havia mais nada.
Julia era uma mulata muito atraente, eu gostava de seus cabelos e de suas pernas e do cheiro de suas axilas e de seu sexo. Seus músculos eram fibrosos e rijos, sua pele não era coberta por nenhum tipo de mancha e ela tinha um jeito de sorrir que, por Deus, excitaria o próprio santo padre. Tudo nela era interessante, ela sabia como ser mulher. Passeava pelo quarto com as pernas a mostra e eu sonhava olhando aquele par de pernas. Quando nossos olhares se cruzavan, eram como dois cães brigando a mordidas, então eu atravessa o quarto como um trovão e a agarrava.
Depois eu me deitava sob as cobertas e Julia assistia aos programas da TV.
Nosso aparelho de televisão só funcionava de vez em quando, e tinha uma imagem chuviscada. Problemas com a antena, eu acho.
Julia gostava de ver TV, gostava de ver qualquer coisa. Assistíamos ao canal da política. Os sujeitos de paletó discutiam algo completamente indiferente para nós. Estavam irados. Eu gostava quando ficavam fora de si.
– Será que esses caras da TV sabem trepar? – perguntou-me Julia
– Ah, não sei. Na verdade…
– Anda, fala. O que você acha?
– Diabos! Todo mundo sabe trepar, querida.
– Não, – disse ela – não falo sobre ter relações sexuais. Falo sobre trepar.
– Trepar?
– É. Trepar assim que nem a gente a trepa.
– Que nem a gente eu não sei. Todo mundo trepa diferente.
– Acho que eles não devem saber trepar direito. – disse ela – Estão muito preocupados com todos os problemas e com o dinheiro dos cofres públicos e com a crise. Acho que não têm tempo para essas coisas.
– Hmmm. E você está se mostrando uma especialista no assunto.
– Claro! Já estive com muito homem, e a profissão influi bastante no modo que trepam. Uma vez eu namorei um rapaz universitário que não sabia transar direito. Ele estava sempre preocupado com o certo e o errado e com as coisas da filosofia. Não conseguia se soltar. Acho que o sexo não era uma coisa importante pra ele.
Não respondi nada.
Olhei para Júlia deitada sobre o chão frio de cimento batido. Eu a adorava. Adorava o jeito que falava sobre coisas que só ela parecia perceber. Adorava o jeito como fazia essas garotas de faculdade parecerem tão pouco interessantes.
Julia era mais velha do que eu e já tinha vivido amancebada com um homem, mas não tinha filhos. Isso era bom. Vivíamos apenas para nós dois. É perigoso namorar uma mulher que tenha filhos. Eu tenho um coração mole e aos poucos iria trabalhar feito um jumento para alimentar bocas que eu não gerei.
– Acho que qualquer homem treparia direito com você, querida.- disse eu – E se não trepasse, qualquer um poderia ver que algo está muito errado com ele.
Julia riu e rolou sobre o chão ficando de frente para mim.
Era maravilhoso.
Nós tínhamos apenas mais um mês de seguro desemprego e eu deveria estar preocupado em procurar trabalho. Mas estávamos felizes. Eu queria adiar as mudanças o maior tempo possível. As mulheres não reagem bem às mudanças. Elas mudam de humor o tempo inteiro, não conseguem lidar com mais instabilidade vinda de fora. E Julia me fazia feliz, me dava sossego. Eu escrevia como nunca e quando ela chegava do trabalho dávamos uma olhada no que ela conseguiu surrupiar da cozinha e fazíamos o jantar. Era uma farra. As pessoas podiam achar que nós estávamos em apuros, mas eu sentia que tinha tudo que precisava ali naquele mesmo quarto.